Ou como quem diz, dia do parto!
Este era de facto um dia muito aguardado.
Desde as 30 semanas que tinha 2 dedos de dilatação e o colo do útero muito curto. Este facto levou-me a uma semana de internamento na maternidade e 4 semanas de repouso em casa!
Às 35 semanas + 1 dia tive a minha última consulta!
Neste dia, tive ordem de soltura da médica! Podia voltar a fazer a minha vida, já era tranquilo eles nascerem!
No dia a seguir à consulta eu e o N. matámos alguma da "fome" que já se fazia sentir entre nós. Nessa noite acordei com contracções (isto de 4 para 5 de Abril). As mesmas mantiveram-se cerca de 3h, regulares de 10 em 10 min. Finalmente decidi que seria hora de acordar o N., e decidi antes disso tomar um banho. Sabia que com o banho ou tudo acalmava, ou acelarava o parto. Acalmou, e eu acabei por não o acordar. Esta foi a preparação para o que viria em breve!
Lembro-me de nessa noite durante o banho, durante contracções pensar que não estava preparada. Eu ainda não estava pronta para receber os meus bebés...
Se nesta noite tivesse apenas esperado 1h e tivesse seguido para a maternidade, eles certamente teriam nascido... e não teria sido tão agradável.
No sábado, dia 6 de abril, foi a festa aniversário da Mónica. A Mónica vive num 4º andar sem elevador e chegámos mesmo a brincar dizendo que se entrasse em trabalho de parto nas escadas dela, seria ela a limpar!
No entanto a subida não me custou e todo o tempo do jantar estive sempre muito bem. Sem contracções, sem qualquer desconforto, sem qualquer sinal que iriam nascer!
Deitámo-nos cerca da 1h da manhã. Adormeci muito bem, apesar de sentir um ligeiro desconforto em baixo, mas nesta altura tudo já era desconfortável.
Cerca da 3h da manhã, acordei com um "plot". Como explicar esta sensação?... era como se um balão tivesse rebentado na minha barriga. Mas completamente localizada em cima do lado direito. Não me provocou qualquer dor! Fez-me acordar, mas não percebi porquê. Libertei um "ah" baixinho e levei as mãos imediatamente abaixo para ver se tinha liquido. Nada. Estava seca.
Levantei-me na mesma aproveitando para ir ao wc.
Ao baixar as cuecas, constatei que tinha uma mancha pequenina molhada. Mas mínima e nada do que tinha ouvido que ficava tudo encharcado...
Associei a um qualquer corrimento mais liquido (tudo era corrimento nesta altura, por isso não seria de espantar).
Nesse momento deu-me uma contracção ou cólica fortissima! Tão forte e inesperada que me levou a morder o dedo para não fazer barulho! Tal como veio, a mesma foi! Assim que passou, achei que estava tudo bem e decidi voltar para a cama. Ao levantar-me escorreu-me algum liquido pelas pernas. Aí achei que talvez tivesse sido mesmo a bolsa a rebentar, e que o trabalho de parto estava mesmo a começar.
Não saiu muito liquido, deixou apenas umas pocinhas mínimas no chão. Tratei de limpar as pernas (e o chão) e decidi que teria mesmo que acordar o N.
Acordei-o e disse-lhe que achava que uma das bolsas tinha rebentado e que se calhar era melhor irmos para a maternidade.
Ele deu-me 2 festas na cara. Disse-lhe para não ter pressa, pois ainda ía tomar banho e tinhamos tempo!
Deixei assim o N na cama e fui até à cozinha. Decidi arrumá-la. Era provável que ficasse na maternidade e não queria ter que arrumar o que fosse no regresso a casa! Arrumei e lavei louça e chegaram as contracções. Sempre que sentia uma olhava para o relógio da cozinha para me poder lembrar dos minutos a que se dava... passava a contracção e eu continuava nas arrumações.
Repetiu-se 3 ou 4 vezes e desisti! Pois eu efectivamente via os minutos actuais... mas nunca me lembrava do que tinha visto anteriormente!
Cozinha arrumada e segui para o banho. As contracções continuavam mas eram completamente suportáveis. Eu estava bem e tranquila.
Não sei quanto tempo estive no banho. Foi mais ou menos nesta altura que comecei a perder noção do tempo. O banho é de facto aliviante e eu sentia-me bem. Foi durante o mesmo que o N se levantou e passou na casa de banho perguntando-me se continuava a perder liquido. Eu estava debaixo de água! Sei lá se perdia liquido. Perguntou-me também se tinha dores e respondi-lhe afirmativamente. De facto eu sentia as contracções, mas o banho relaxava-me e eu continuava a sentir tudo completamente suportável. Demorei-me, conversei com os meus bebés, despedi-me da barriga e dei-lhes muitas festas através dela. Estava provavelmente a chegar a altura dos conhecer e foi inevitável o estado de felicidade em que isso me deixou.
Saí do banho e fui-me vestir. Assim que saí da água senti as contracções apertarem. Mas nada de me fazer subir paredes. Vesti a roupa com que tinha tirado as fotografias semanais durante a gravidez.. Fui até à cozinha e o N que lá estava a tomar o pequeno almoço e a preparar a trouxa para levar (afinal tudo se podia demorar) perguntou-me se eu queria comer. Naquela altura o corpo é sábio. Não me apetecia nada. A ideia de comer fez-me mesmo confusão. Mas comi uma barrita. Se estivesse efectivamente em trabalho de parto iria precisar de energia!
Sentei-me na beira da cama a comer a barrita e a tentar controlar as contracções e o intervalo das mesmas. Nesta altura senti que tudo estava em andamento e ia apontando no tlm os minutos das mesmas pois decorá-los continuava a não ser opção.
Senti também que nesta altura comecei a entrar num género de transe. O N estava pronto e íamos seguir. ao levantar-me perdi mais liquido e senti necessidade de procurar um penso. Estava a ficar molhada. Pensos é coisa que não uso... não existem em casa e depois de me pôr de joelhos no chão com o enorme barrigão na casa de banho à procura dos mesmos dentro do móvel, acabei por desistir e ir buscar os únicos que existiam, os para o pós parto. Nessa altura troquei novamente de roupa. O liquido perdido já me tinha molhado as calças. E continuei a pensar, que ou era mesmo bolsa routa ou estava incontinente!
Já pronta, e com o N já à minha espera, dirigi-me à porta. E voltei imediatamente para trás e disse-lhe que tinha que ir à casa de banho. Grunhiu-me um "mas ainda agora foste" e eu devo ter respondido num grunho semelhante "mas eu tenho que ir!". E tinha! Limpei o intestino! perfeição do nosso corpo. Cada vez tinha mais consci~encia que estava em trabalho de parto efectivo.
Lá seguimos. lembro-me de ter olhado para o relógio do carro quando saímos do parqueamento e eram 4h01 da manhã. Achei sempre que fizémos o caminho nas calmas. Que íamos sem as pressas e com os 4 piscas que o N sonhava. Lembro-me de ir sempre muito bem disposta e controlada. Sempre que sentia nova contracção pedia um bocadinho ao N. Focava-me e entrava na partolândia e no fim olhava para o relógio a perguntar-lhe as horas. nunca me lembrava dos minutos anteriores, mas percebi que estavam a ser seguidas. Brinquei com o N em relação aos 4 piscas. A IC19 estava deserta. Já a chegar ao Amoreiras havia um acidente. O carro estava bastante danificado e lembro-me de pensar que quem estava lá dentro poderia não ter ficado muito bem. Não deixa de ser curioso... eu a caminho da maternidade para trazer novas vidas e passar por alguém que poderia ter perdido a sua. Chegámos à maternidade, num percurso que se fez, achava eu, nas calmas (mas afinal parece que demorámos apenas 12minutos!).
Estacionámos à porta (como não poderia deixar de ser!) e tratei de sair do carro. O N veio logo para me ajudar, mas respondi-lhe que estava óptima!
Entrámos na urgência e estavam poucas pessoas. Só me lembrava da última sessão de preparação para o parto na visita à urgência da MAC a fisoterapeuta dizer, que quando dessemos entrada referirmos todas as informações relevantes (bolsa routa, contracções, tempo de gestação sangue). Pois bem, sentei-me e disse à senhora que era uma gravidez gemelar, estava de 35sem+5d, com contracções seguidas e achava que tinha ruptura de bolsa 8eu continuava sem certeza). Entrada dada e sentei-me num banco e olhei para o relógio, eram 4h25.
Era a única grávida enorme!
O N perguntou-se se eu queria andar (por causa do desconforto das contracções), mas eu estava era muito bem sentada. Assim controlava-me melhor. Entrou entretanto uma grávida (que veio a ficar no mesmo quarto que eu e teve que esperar que eu libertasse o bloco!) de pijama, robe e ténis. A minha descontracção ainda serviu para brincar e disse ao N que ao menos eu tinha tomado banho e me tinha vestido! Estava de facto muito relaxada e tranquila.
Às 4h35 fui chamada para a triagem. Entrei descontraída e disse boa noite. O enfermeiro perguntou-me o que me tinha levado lá.
descontraída disse-lhe que estava grávida de gémeos e que achava que uma bolsas tinha roupido. Perguntou-me com ar incrédulo: "acha?". Respondi que ou isso ou estava incontinente! e que a ter ruptura seria a dela que era a superior. Mandou-me então despir da cintura para baixo para verificar e se tinha dores. Respondi um "ah, sim. De 4 em 4 ou 3 em 3 minutos diz o meu marido". Percebi a surpresa dele. Ainda tive pelo menos uma contracção e pedi-lhe para esperar 2segundos. Só para controlar. Lá me deitei e ele referiu logo que claro que estava com ruptura de bolsa e informou-me que me iria verificar o colo do útero. Na brincadeira perguntei-lhe se era a partir daquele momento que volta não volta poriam uma mão cá dentro! Ainda se riu comigo. Verificou o colo do útero e não disse nada. Pegou no telefone e chamou um colega para vir. Disse que tinha dúvidas com uma gemelar. O colega chegou e eu a rir-me perguntei-lhe se também ía pôr a mãozinha. Pois ía... Diz-me que tenho 8 dedos de dilatação! 8! Era certo, íam nascer! E eu estava tão entusiasmada com a ideia! Ainda chamaram outra médica, para verificar a dilatação, que acabaria por estar no bloco operatório. Discutiram se me mandavam para a sala de dilatação se para o bloco directo, pois eles teriam que nascer no bloco, com receio que alguma coisa desse para o torto nalguma altura.
Pedi para chamarem o meu marido que estava à espera na urgência. Deram-me logo ali na triagem a roupa para trocar e entrou o N. A rir-me disse-lhe que estava de fcato em trabalho de parto e que já tinha mais de 3 dedos de dilatação (estes eram os necessários para a epidural que não queria). Ele levou o saquinho branco com a minha roupa. O enfermeiro levou-me até a uma sala de dilatação (a número 4 acho) e nesse momento começou o frenesim. Veio uma enfermeira para me colocar o soro e perguntei logo se era apenas soro. Só assim autorizava. Outra para me tentar ligar à máquina do CTG, que acabou por nunca conseguir. Outra que estava lá só para me chatear! A médica entrou e perguntou-me se queria a epidural. Agradeci e neguei. respondi-lhe que me sentia bem. Houve uma enfermeira que confirmou se não queria mesmo e porquê! Disse-lhe que estava bem, era alérgica era a mãos dentro de mim! Mais tarde repeti o mesmo à médica que estava responsável pelo bloco.
Numa das várias vezes que a médica me pôs a mão para verificar a dilatação, e entre tentarem pôr o CTG, soro e eu controlar as contracções, a médica refere que tinha dilatação completa mas ainda umas membranas. E diz-me assim: "agora vou magoá-la ok?". Não, não está ok! E disse-lhe, o que não serviu de nada! De facto magoou-me e eu fui ligeiramente mal educada! Depois da enfermeira que estava lá para me chatear carregar no meu ombro para eu estar quieta e referir que aquilo era para ajudar os meus bebés, respondi torta que não precisava daquilo, que não estava ali para entrarem coisas mas para sairem e ela (a médica portanto) que enfiasse a mão por ela acima... bem, mulher a parir vira bicho!
Lá tirou a mão e mandou-me seguir para o bloco. Estava francamente dorida nessa altura. Fui em transe para cima, levada na maca. A sair de lá, perguntei se podiam chamar o meu marido. Afinal tinham dito que apesar de não poder estar no bloco, poderia estar à porta. Responderam-me torto dizendo que teria que esperar na urgência. Lembro-me de entrar no bloco operatório e estar um enfermeiro à porta que me dá os bons dias. Passou qualquer dor! Respondi-lhe um. "Bom dia, está bonzinho?". Disse-me que estava muito bem disposta ao que lhe respondi se não havia motivo para isso! Afinal eu ía conhecer os meus bebés!
Lá passei para a marquesa e coloquei os pés nos estribos. Levantaram-me ligeiramente a cabeceira. Entrou a médica e deu-me os bons dias. Voltou a perguntar-me pela epidural e lá lhe dei a mesma resposta. Lembro-me de olhar para o relógio nesta altura eram 5h35. A médica mandou-me logo fazer força. Ainda lhe perguntei, como já? Era hora. e quando tivesse uma contracção era para aproveitar.
Não sei quantas vezes fiz força. Não consigo recordar. Mas devem ter sido umas 3 vezes- E assim nascia o Vicente às 5h43 que começou logo a chorar. O enfermeiro referiu que não havia dúvidas que era um apgar 9/10.
Senti de imediato o alivio que dizem quando se dá a expulsão e as contracções pararam. Referi isto à médica que sorriu. E disse-lhe: "mas falta outro não é?", acenou e disse. "vamos lá a isto". Mandou-me fazer força, mas eu estava sem contracções, não sabia para onde fazer. Deu-me uma "ajuda" (acho sempre relativo), direccionou a cabeça da Núria e 5 minutos depois nascia. Eram 5h48 e os dois bebés tinham nascido.
Vieram colocar-me os dois no colo e disse-lhes que eram bem vindos. Era tudo o que tinha imaginado dizer-lhes naquele dia! Olhei para a Núria e reparei logo como era cabeluda... e a cara do pai. E o Vicente... fez-me tanto lembrar o meu pai! E era carequinha e muito russo!
Nesta altura a médica perguntou pelo pai das crianças. Seria suposto estar à porta do bloco. Mas ninguém o chamou, ninguém lhe disse que já tinham nascido. A médica zangou-se e mandou-o chamar. No entanto acabou por nos ver só quando descemos.
Faltava coserem-me. A médica tem a lata de dizer que me iam coser, pois tinham feito um corte para ajudar os bebés a nascer, se bem que não teria sido necessário. Esta parte já custou mais. Uma pediatra veio ter comigo e informou-me que estava tudo bem com os dois, mas como o Vicente tinha nascido com 1855kg, iria ser levado para os intermédios. Apenas para controlo, mas que eles estava bem.
Após corte e costura, em que ainda brinquei para me deixarem tudo como estava pois queria voltar a usar, fui levada novamente já com a minha bebé para a sala de dilatação inicial. E chamaram o N, que continuava na urgência.
Não tinha o Vicente, mas a Núria mamou pela primeira vez, e tão bem que o fazia!
O N acabou por ir à neo vê-lo e fotografá-lo.
Eu acabei por tomar o pequeno almoço e fui levada para a enfermaria. Com não uma, mas duas pulseiras no pulso! Uma rosa e uma azul! Com 1º filho e 2º filho de V.
Só vi o Vicente às 14h. Hora a que começava a visita e tinha a quem deixar a Núria. E foi estranho, muito estranho entrar naquele espaço e ver o meu bebé naquela caixa de virdo. Tinham-lhe posto sonda e tentavam que bebesse no biberão. Não me deixavam dar mama ao meu bebé. Só dois dias depois veio para ao pé de nós. E 3 dias após o parto viémos os 3 para casa!